Um filme de terror tem sido exaustivamente apresentado ao grande público brasileiro todos os dias nos noticiários e programas de tv. Como todo filme de terror, é enfadonho, causa danos cerebrais aos espectadores, inquietações comportamentais, prejuízo espiritual e a energia ainda vai ficando estranha a cada nova cena (tudo negativo ao extremo), causando depreciação das emoções, perda de sensibilidade, desumanização e no caso específico de deturpação da realidade, faz com que as palavras se transformem em analogias de violência e ódio. O nome do filme é “O Massacre da Palavra”.
A etimologia é a área de estudo linguístico da origem das palavras, onde foi o seu surgimento, evolução, busca pelo; “étimos”; vocábulos que deram origem a outros vocábulos e assim por diante até chegarmos aos dias atuais; a palavra é coisa tão antiga que não conseguimos estipular a data de seu surgimento. São inúmeros os seus sinônimos com vários significados distintos, como; vocábulo, termo, verbo, unidade, lexema, afirmação, declaração, compromisso, promessa, juramento, testemunho, parecer, permissão, licença, colóquio, arenga, doutrina, costume, princípio, dialeto, a lista é tão numerosa que é melhor encerrar por aqui. A grande maioria das palavras deriva de outras palavras, muitas vezes suas origens se perderam no tempo, advindas de outras línguas, de outros povos, de outras épocas tão distantes que sua origem se desmembra por milhares de vezes. O vocábulo “palavra” vem do latim paraula, que por sua vez tem origem no latim clássico parábola, que significa “fala”, “discurso”.
É possível a comunicação entre seres humanos sem o uso da palavra? Sim. É perfeitamente possível, porém, não há meio de comunicação que seja tão aprofundado quanto pelo uso da palavra. Por meio desse sistema, podemos chegar a conceitos muito complexos que, em outros meios de comunicação, as ideias poderiam se perder com maior facilidade. Sem a palavra, a comunicação fica mais limitada, perde a capacidade de profundidade de sentido e ideias filosóficas ficariam na superfície, diminuindo em muito o potencial dos temas. Quando bem empregada, a palavra permite ideias complexas com o mínimo de ruído ou distorção de sentido, assim, com o adequado uso das palavras, um bom escritor consegue manter a coerência, às vezes até de maneira muito sucinta e impressionantemente simples. Por meio das palavras surgiram leis, e é por meio da palavra que somos capazes até de distinguir os mentirosos, os corruptos, os bandidos, mas infelizmente o contrário também é verdadeiro, é possível que boa parte dos mentecaptos ditatoriais consiga se esconder.
Na antiguidade, por meio da palavra de um rei poderíamos afirmar que uma promessa seria cumprida ou que a afirmação de uma mentira poderia ser incontestavelmente descoberta (sempre foi assim, mas hoje está pior!). Poderíamos medir ou pesar as palavras com certa prudência a fim de evitar transtornos. Alguém muito hábil poderia fazer o certo parecer errado e o bom parecer ruim, por isso, independentemente de sua época, é saudável saber usar as palavras com certo cuidado.
Certas frases servem como indicação do poder da palavra e de sua importância, como alguém a se antecipar em saber o que uma pessoa está por dizer, com a frase “tirar a palavra da boca de alguém!”. Uma pessoa que faz exatamente o que disse que iria fazer, sem nenhuma alteração na ordem ou nas palavras, podemos dizer que “ela fez o que disse, palavra por palavra”, “é uma pessoa de palavra”. “Cortar a palavra”, impedir que uma pessoa continue falando. Permitir que uma pessoa fale e que também seja garantido o cumprimento de um dever: “dar a palavra a…”. “Pedir a palavra”, solicitar que lhe seja permitido falar. Exclamação no momento em que uma pessoa ouve justamente as palavras das quais estava esperando: “Santas palavras!”. Quando uma pessoa se utiliza de palavras duvidosas ou se utiliza de um meio de pouca expressão, “meias palavras!”. Ao indicar coesão, brevidade: “é um homem de poucas palavras!”. São inúmeras as possibilidades de uso das palavras, até mesmo o de proibir uma piada, algo contado por meio de palavras a fim de demonstrar o quanto perdido está um país que não sabe sorrir, ou que, ao menos (e infelizmente), seja decretado de maneira velada uma ditadura por meio da proibição do simples ato de falar ou até mesmo de pensar. Que Deus nos livre da impossibilidade de rirmos de nós mesmos, pior ainda seja o de proibir que comediantes façam piadas com ou sem o uso das palavras.
No massacre da palavra, o sentido está sendo destruído, com isso as pessoas já não estão mais com a capacidade de entender os verdadeiros significados do que está sendo feito, a ditadura está instalada e estão chamando a isso de “democracia”, estão deixando o lobo como responsável em cuidar do galinheiro.
“Ave César”, “Ave Imperador” que regula a todos por meio da força, mas que começa sempre com o uso da palavra, ou seria… “Maldito seja César?!”.
P.S. O título ficaria melhor se fosse… “A proibição da palavra!” ou… “Toda piada será proibida?!”.