O meu no me é: Sensível (com ‘s’ maiúsculo, o sobrenome para este momento não se faz necessário informar). Meu nome não é Pedro, não é João, não é Maria, mas sim qualquer pessoa, posso ser qualquer um que tenta se esconder da realidade, que tenta se desvencilhar das verdades da vida, da constante negação do que de fato somos enquanto humanidade, sou uma pessoa “normal”, sou como qualquer um que, a qualquer custo, está disposto a tudo para ser reconhecido como sendo um bom ser humano, nem que para isso eu tenha que agir como um animal, para tanto, não posso ter qualquer nome sem sentido que revele a verdade, tem que ser um nome fantasioso, cheio de eufemismo para aliviar minhas reais intenções, um nome perdido, desconectado, não faz sentido, pois fica mais difícil de enganar a todos, por isso, chamo a mim mesmo de: Sensível. Ao me colocar assim, como sendo alguém que na realidade se coloca apenas como sendo uma pessoa “sensível”, eu certamente consigo expor a grosseria, a estupidez, a truculência de quem é mais inteligente do que eu, mais capaz do que eu, mais humano do que eu, mais determinado e corajoso do que eu, mas que infelizmente ousa em demonstrar a todos o que de fato eu sou.
Agora se tornou uma palavra que pode mascarar muita coisa, a palavra sensível pode ser usada como uma desculpa para quem não tem conhecimento de coisa alguma, então, é mais fácil dizer algo de si mesmo como sendo alguém “sensível”. Pode também ser uma maneira de esconder o egocentrismo de alguém que é pra lá de exacerbadamente egocêntrico, afinal de contas, “quem os outros pensam que são” ao se colocarem em alguma posição de superioridade quando tentam demonstrar serem capazes de fazer algo melhor do que o Sensível conseguiria, ou mesmo quando ousam demonstrar saber algo do qual o Sensível, há até pouco tempo, ignorava por completo, ou mesmo que o Sensível tenha demonstrado ser incapaz de compreender independentemente do tempo ou do lugar.
Se eu não como carne, não é exatamente porque eu acredito que seja mais saudável, mas porque sou “sensível”, não porque seja melhor para o meu corpo, isso por si só não é mais suficiente, eu não como carne porque quero passar uma mensagem de superioridade. Se eu defendo a ciência, não porque eu acredito cegamente, mas porque eu acredito na agenda que meus consignatários defendem, mesmo que hoje essa agenda negue o que defendíamos ontem, porque o importante é que estamos juntos, os temas em si não valem nada, os resultados só interessam quando são a nosso favor, independentemente de quem saia prejudicado, o que importa apenas é o meu “pessoal”. Se eu defendo o meio ambiente, não é porque não tenho emitido nada de poluente no meu dia-a-dia, não é porque não tenho sujado a rua, ou porque não fico em casa com ar condicionado desligado, mas é porque eu preciso passar uma mensagem de superioridade moral, nem que seja falsa, nem que seja um autoengano proposital, e mesmo que eu acredite nessa minha “sinceridade”, eu, na verdade, não passo de um histérico que quer apenas chamar a atenção de todos. Como qualquer histérico “normal”, eu acredito no que eu falo, mesmo que esteja totalmente desconectado da realidade. No fundo, o que importa mesmo são as aparências, a superficialidade. Eu não me importo com o que eu faço, ou com o que eu digo, o importante é que me reconheçam como alguém superior e humilde, pois afinal de contas, arrogantes são os outros que discordam de mim. Não estou preocupado com os resultados das minhas ações, apenas estou preocupado comigo mesmo e com a minha patota, pois eles sim, são sensíveis iguais a mim.
Na verdade, o meu nome é Progressismo.